Descrição
Contos Contemporâneos 2016: Uma vez me disseram que as oficinas de criação literária seriam fábricas de clones do escritor que as ministra. Achei graça, porque quem disse esse absurdo nunca foi aluno ou professor de uma oficina. E hoje, depois de quinze anos nessa atividade didática, seiscentos alunos e cinquenta e dois livros por eles publicados, acho aquela assertiva ainda mais absurda. Querem um exemplo atual? Cíntia Moscovitch, a Patrona da nossa 62ª Feira do Livro de Porto Alegre, foi aluna de oficina do Luiz Antônio de Assis Brasil, um dos pioneiros dessa arte no Rio Grande do Sul. E hoje, passados mais de vinte anos, foi eleita para esse cargo disputadíssimo por um colegiado cultural de trezentos votantes. Por que foi eleita? Certamente pela qualidade e aceitação de seus livros; porque tem luz própria e não por ser um satélite do seu antigo professor. Aliás, quem conhece e admira as obras dos dois, sabe como são diferentes. A não ser no talento da arte de escrever. Penso e escrevo estas palavras no momento em que nasce Contos Contemporâneos 2016, livro assinado por quatorze dos meus alunos escritores: Alda Paulina, Amauri, Clarissa, Cris, Fernanda, Lígia, Ione, Maria Codorniz, Maria Luiza, Nara, Luciana, Lucio, Roque, Sonia. Todos eles orientados por mim na arte de escrever, mas diferentes em seus processos criativos como o são em suas impressões digitais. Depois de intensos nove meses de convívio, sou capaz de identificar seus contos da mesma forma que provo vinhos de qualidade. Impossível confundir a Paulina com o Amauri, o Roque com a Sonia, ou com qualquer um dos seus colegas. Mas, o melhor de tudo é que eles também se conhecem e se querem bem, auxiliando uns aos outros sempre que possível. Não há disputa de beleza em nossa oficina. A arte de escrever é desenvolvida num am-biente lúdico, fraterno, em que o único erro é não escrever, embora faltar à aula também seja um pecado. Durante uma semana, todos esperamos com ansiedade o momento da leitura dos contos escritos em casa. E é baseado neles, destacando os pontos positivos e alertando para as técnicas a desenvolver, que a oficina tem sua âncora. Nada de usar a palmatória da crítica destrutiva. Nada de riscar futuras obras de arte. Não é pisoteando as plantas em brotação que teremos flores em nosso jardim. Aliás, que belo jardim de contos é este livro. Sem nunca perder a noção da realidade, escrevendo sobre temas sociais dolorosos, sempre que necessário, meus alunos jamais perdem a ternura, nunca esquecem de pregar a esperança. E, principalmente, como nos ensinaram Hemingway, Sartre, Simone de Beauvoir, não escrevem para ganhar fama e sim para ganhar leitores. Ou melhor, escrevem para você, que está, agora, com este livro nas mãos. - Alcy Cheuiche, Feira do Livro de Porto Alegre – 2016.