Descrição
Entre as estruturas básicas de uma narrativa ficcional encontra-se a ambientação; e isso, entre outras coisas, pressupõe o período; senão o enfaticamente histórico, o temporal, onde terão vez os eventos, a articulação da trama, o conflito, etc. Dos tempos, quem sabe inúmeros, inabarcáveis, temos, de qualquer forma, assegurados os três imediatamente conhecidos e reconhecíveis: passado, presente e futuro. Estes podem estar, diretamente ou não, relacionados com os acontecimentos narrados. Portanto, o que interessa, em termos de ficção, é o nível de relação que o autor pretende estabelecer entre sua história, e a História propriamente dita, situada dentro das fronteiras do tempo abordado. A questão de causa e efeito tem, com isso, à semelhança da própria “vida real”, uma importância vital estratégica, para não dizer avassaladora. Os personagens, como “indivíduos” pertencentes a um dado contexto social e a uma dada mentalidade geracional, são acionados e reagem (segundo ou a despeito de seu grau de discernimento, maturidade psíquica, complexidades e tibiezas emocionais) por aquilo e àquilo que, potencialmente, pode afetar suas existências e, logo, decidir suas trajetórias.
Na presente reunião de novelas, seu autor procurou fazer, algumas vezes a partir de um enfoque objetivo, outras vezes apenas relativo, com que o tempo histórico, especificamente no que esse possui de desumanizador e destrutivo (talvez por isso mesmo mais revelador em sua tessitura trágica), como no caso do passado imediato, situado aqui entre os anos 30 e o ano 2000 de nosso aflitivo e conflitante recém-terminado século XX, se constituísse, com maior ou menor ênfase, no elemento – embora não necessariamente definidor naquilo que diz respeito às suas consequências últimas, mas acionador dessas mesmas circunstâncias extremas; que vêm, por sua vez, a vitimar, condenar ou iluminar, no circuito de uma órbita maior, quiçá humanamente transformadora, cada um de seus irredutivelmente perplexos e complexos protagonistas; por índole ou convicção, muitas vezes solidários; e, outras tantas, desapiedados e desenganados de tudo pela imposição inelutável das contingências atrozes, individuais e coletivas, do tempo que lhes foi dado suportar, plasmar e partilhar em desespero.