Descrição
Baile de Cobras faz um corte na história, narrando a trajetória política de Ildo Meneghetti. Conta como um homem comum, que entrou na vida pública por acaso aos 53 anos e praticamente contra a própria vontade, se elegeu duas vezes prefeito de Porto Alegre, governou o Rio Grande do Sul por duas vezes, disputando sempre como um candidato improvável, em eleições livres e diretas. Começou como Vereador de Porto Alegre em 1947. Venceu todas as eleições que disputou, batendo nomes consagrados como Leonel Brizola, Alberto Pasqualini, Fernando Ferrari, Egidio Michaelsen e outros. Protagonizou também o primeiro debate político transmitido pela TV brasileira, com o arquirrival Leonel Brizola, em 1962. Atravessando momentos conturbados da história brasileira, Baile de Cobras narra o início da carreira profissional de Meneghetti como engenheiro, depois sua atuação como presidente do Internacional num momento de grave crise para o clube e, por fim, suas "táticas eleitorais".
O próprio Ildo Meneghetti admitia que não era bom orador. Apesar do vigoroso timbre de voz, não tinha boa dicção, o que o desfavorecia num tempo em que o forte das campanhas estaduais eram os grandes comícios, com excelentes oradores. As pesquisas eleitorais não tinham o rigor científico das atuais, as técnicas de marketing eram rudimentares e também não havia contribuições financeiras das grandes corporações. As doações de campanha funcionavam como “ação entre amigos” para financiar o esforço de uma eleição, onde os candidatos envidavam seus próprios recursos e, não raro, dissipavam fortunas. Meneghetti adaptou as campanhas ao seu estilo. Visitar todo o Estado, cada Município, vila ou rincão, onde nunca um candidato a governador havia pisado antes. Casa por casa. Não havia venda ou bolicho por onde passasse em campanha por este Rio Grande em que não parasse para uma conversa, um abraço, um aperto de mão. Na região de colonização italiana, onde havia trabalhado na construção de ramais ferroviários como engenheiro recém-formado, mais de trinta anos antes, surpreendia os colonos quando chegava, falando no dialeto vêneto aprendido lá mesmo, com eles. Lembrava-se de seus nomes, os nomes dos filhos, dos parentes, perguntando sempre pelos velhos amigos. O fato de aquele homem, agora “importante” em sua visão, vir vê-los e, mais do que isso, passados tantos anos ainda lembrar-se deles, facilitava novos contatos, transformando-se em assunto e votos. Tinha conhecidos e amigos nos mais remotos lugarejos. Nas viagens surpreendia, sempre lembrando algum atalho, uma estradinha secundária qualquer, muitas delas quase intransitáveis, ao fim da qual parava para visitar outro velho conhecido. E acabava por conquistar a simpatia dos conterrâneos e os votos do distrito.